O Novo Empreendedor
Maria Thereza Freitas – Novembro 2024
O tal empreendedorismo vem sendo cevado há alguns anos.
Primeiro foram os profissionais liberais, induzidos a serem pessoas jurídicas, evitando que os “empregadores” arcassem com as obrigações sociais.
Depois, vieram outros profissionais, das mais diversas áreas e culminou com a disseminação entre praticamente todos os trabalhadores.
Foram todos enganados? São todos ingênuos?
Tentemos ver por outro ângulo. A pessoa tem um emprego massacrante, enfrenta jornadas extenuantes, com chefes muitas vezes insuportáveis, clientes rudes, agressivos. Demora duas horas no transporte público de má qualidade, vias esburacadas, engarrafamentos, em troca de um salário que mal chega ao final do mês, esperando uma aposentadoria lá ao longe e que pode nem se concretizar dado que, volta e meia, alguma genialidade decide mudar as regras, seja alterando a idade mínima, o tempo de contribuição ou qualquer outra coisa que dê na telha.
Os capitalistas, que não são bobos, vislumbram uma grande oportunidade de diminuir seus custos e, claro, aumentar seus lucros. Pegam a ideia lá de trás, da pessoa jurídica e começam, por meio de grande propaganda sutil ou nem tanto, a vender a ideia da liberdade que é não ter patrão, não ter horário, não ver seus minguados rendimentos serem “comidos” por contribuições à previdência, sindicato, praticamente sem vislumbrar retorno.
(lembrar que a nossa conjuntura não nos permite planejamento de longo prazo).
Juntou a fome com a vontade de comer: o sonho de liberdade, autonomia, não dar satisfação, aceitar ou recusar uma entrega, uma corrida. Não ter um patrão no seu pé, embora tenha um invisível, não tem preço. A insegurança futura não entra na equação, muito menos a solidariedade, alicerce da redução das desigualdades. Afinal, também vem sendo vendida a ideia do mérito, do prazer imediato, da ostentação falsa, do orgulho de ser MEI.
É o capitalismo sabe se travestir e ir ao encontro dos sonhos das pessoas.